quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Peregrino (versão de The Eternal, do Joy Division)

Ouvindo do céu o padecer irritado
De uma voz que irá me levar muito além
Com os pés descalços contorno e reflito
Apenas mais um caixão de outro alguém

Tento em vão me manter acordado
Do outro lado tem flores no quintal
Uma festa se forma, um chama se apaga
Me aventurei no bem, mas me apeguei ao mal

A terra que cai é fina e pesada
Minhas pernas cansadas andam um pouco mais
É tarde demais para arrependimentos
A tentativa de ver, tolo nos faz

Agora escuto um sino ao longe
Mais alguém vai lutar e perder
Enquanto as folhas caem, e os frutos nascem
Cruzo os braços e espero ceder

Dia I - Sobre viver em conjunto.

Hoje é o dia I. Decidi fazer um blog, não sei bem por quais motivos. Talvez porque eu acredite que assim vou me sentir menos sozinho, sei lá.
Sozinho.
Solidão é uma palavra estranha, que me atrai, incomoda, irrita, e me atrai de novo. Ao mesmo tempo que eu fujo dos labirintos que ela forma, eu inconscientemente me enterro nela, me alimento dela, faço dela parte da minha vida. A solidão virou uma forma de viver pra mim. É uma rotina. Pra mim ficou comum ficar dias sem falar com alguém que não seja meus pais. Tão comum quanto comer, dormir, e fazer qualquer outra coisa. 
Minha solidão não é passageira. Acho que eu vivo minha solidão há tempos. Desde que eu me entendo por pessoa humana eu me vejo como o garoto excluído da turma, o menino diferente que curte músicas diferentes, o menino que escreve poemas, o menino que não sabe jogar bola, o menino que gosta de meninos e meninas, o menino que sente uma profunda dor no peito quando vê um animal sendo maltratado. 
Talvez minha solidão seja fruto de minhas diferenças. Eu e a sociedade temos profundas desavenças. Ela me xinga, eu xingo de volta. Ela me chuta no olho, eu cuspo nela bem no meio da testa. Somos rivais. Somos inimigos mortais. Eu não sei bem o por quê disso. Culpa de minhas diferenças com ela talvez?
Culpa do fato de eu ser tão... vamos ver... anormal?
A sociedade não entende a minha mente porque ela não faz o mínimo de esforço. Ela quer me entender usando os meios que usa pra entender os outros. Isso é errado. Desse jeito, ela está tentando consertar algo usando luvas de boxe.
Na realidade, minha solidão é fruto de eu mesmo. Sim, é claro que é. Eu sou muito arrogante. Eu enxergo as pessoas com olhos de cachorro, vejo elas preto e branco, vejo elas desinteressantes, tristes... normais. Do alto do meu cérebro confuso, eu vejo as pessoas como peças de um jogo que eu estou distante, muito distante.
Eu não nasci pra sociedade. Eu nasci pra algo que eu não sei exatamente o que é. Certamente, eu sou apenas o fruto de uma geração que virá, uma geração que pensa, que sabe que o mundo está errado, que sabe que a sociedade atual é apenas um lixo, um sobproduto da vida. 

Vou postar um poema. Para terminar, só mais uma coisa, que quero que lembrem-se: Nós não devemos nos  esconder da solidão, pois ela se esconde na gente. Não adianta mudar tudo o que está fora, enquanto dentro continua-se a mesma coisa. É como estar com fome e fazer montinhos de comida. Você deve se entender, se decifrar, e mudar o que for preciso, mesmo que doa, mesmo que transforme toda a sua vida. Quem disse que viver é fácil?




Pra quem não tem mais nada
O que se vê do alto da sacada é tentador
Trilhando a estrada, cujo destino sufocou

Caos aberto,
Mente insana
Os poemas sobre a cama gritam o seu nome
Oh, não me abandone
Fique comigo.

A chuva na janela, uma pistola a descarregar
Sobre a mesa da sala de estar
Um grito ela deu, ela queria ajudar
Quão egoísta foi ele?
Quão egoísta foi ela?
Que não viu as pistas dele, e agora ele está aqui
Sozinho com frio, com fome
Oh, não me abandone

Brilhe herdeiro da loucura
Pois os átomos da tua carne estão cansados de dor e rejeição
Não me pergunte qual é o sentido da vida
Pois no fim nada faz sentido

Chore, e chore,
Desabafe sob os ventos que atingem a capital do país da primavera
Ninguém se importa se estou vivo ou morto, você diz
Eu me importo, eu reluto, rebato, falo alto
Me esqueço dos cristais que quebram em sua cabeça

Aceite meu corpo, aceite-me
Deleite toda sua loucura
Que a queda contra a nada seja apenas a memória
Cante comigo uma canção, mostre-me um ato de bravura

Pra quem não tem mais nada
O que se vê do alto da sacada é tentador
O destino dá caixas erradas para quem não encomendou
E nem para extraviar...

 

Deus vai entender.

Hoje eu estava no colégio, e me veio um poema na cabeça. São oito versos, mas algo nesses versos me fazem sentir... estranho, sei lá. São oito versos intensos, duas estrofes que resumem o pensamento que acho que muitas pessoas têm:


Deus vai entender
Quando eu bater
Com minhas costas frias
Contra as grades do edifício

Deus vai entender
Quando carne enlatada colidir
Explodindo feito balão de festa
Contra o futuro que está por vir

Acho que Deus entenderia se eu me matasse. Sim, ele seria muito injusto se não entendesse.